Depois de Christopher Nolan fazer o que fez com o Batman, com sua elogiadíssima trilogia – principalmente o segundo filme, “The Dark Knight”, que é memorável -, os filmes de super-heróis deixaram de ser apenas batalhas entre o bem e o mal, efeitos especiais estonteantes e atores consagrados escalados para dar credibilidade ao projeto. Os roteiros e até mesmo as atuações passaram a ter uma importância maior, assim como a fidelidade aos quadrinhos – que sempre foi levada em conta, mas que depois dos Batman de Nolan aparentemente passou a ser encarada com maior cuidado -, e a verossimilhança (na medida do possível, é claro).
Dos últimos grandes filmes de super-heróis, o que mais se aproximou do ideal proposto e perseguido por Nolan foi “Capitão América“, um filme com um roteiro muito bem construído, com um ritmo não muito acelerado, efeitos especiais também muito bem feitos e sem tantos exageros – lembrando que os limites do exagero, em filmes de super-heróis, são um tanto elásticos – e até mesmo boas atuações – também lembrando que os limites da boa atuação, aqui, são um pouco reduzidos -, com Chris Evans fazendo um bom trabalho como protagonista.
Outros grandes filmes – talvez seja necessário fazer um pequeno esclarecimento aqui: “grandes filmes” no sentido de que são produções cujos orçamentos e expectativas dos financiadores e do público são altíssimos -, como “Lanterna Verde”, “Homem de Ferro” e “Os Vingadores” são bons filmes de entretenimento, mas passam longe da trilogia de Nolan e do primeiro filme do Capitão América. A maior diferença, entre eles, é que estes se propuseram a ser sérios, sem esquecer o bom humor (sendo que em “Batman” quase não há espaço para gracejos), e aqueles deram maior espaço ao divertimento, com a ação e algumas piadas sempre que fosse possível inserir alguma.
Foi nesse contexto que “O homem de aço”, o novo recomeço do Super-Homem, foi pensado. Aquele que é considerado por muitos como o maior super-herói dos quadrinhos deveria ter um filme à sua altura, e um dos indícios mais fortes para que se possa chegar a essa conclusão, a de que realmente houve uma preocupação quanto à qualidade de “O homem de aço”, foi a inclusão de Christopher Nolan no projeto, como um dos produtores e como um dos mentores da história do filme, que foi roteirizada (a ideia) por David S. Goyer, co-roteirista de “Batman Begins” e um dos criadores da história de “The Dark Knight”.
Tamanho cuidado teve resultado e, ao mesmo tempo, não teve. “O homem de aço” é um bom filme de entretenimento, ponto. Porém ele não incomoda ou instiga tanto o espectador quanto “The Dark Knight” e “Capitão América”, por exemplo, que abordam a ética e a nobreza de espírito, questões muito importantes – fundamentais, na verdade – em uma época conturbada como a nossa. Os primeiros minutos do filme, nos quais ficamos sabendo um pouco mais sobre o fim de Krypton, planeta natal do Superman, são excelentes. Além de o destaque a essa parte da história ser um pouco maior do que no “Superman” anterior (“Superman – O retorno”), Russell Crowe está ótimo como Kal-El, pai do bebê que será enviado à Terra e se tornará o Super-Homem. Outro ponto positivo do filme é mostrar Clark Kent como um deslocado, tanto quando criança quanto como adulto, e dar a esse deslocamento um peso que nunca havia sido dado em nenhuma das outras adaptações do Superman para o cinema. Mas, a partir do momento em que Clark se torna Superman e que os kryptonianos remanescentes vêm à sua busca, o filme cai no lugar-comum que levou “Superman – O retorno” ao fracasso (junto aos fãs): a história passa a ser um tanto quanto boba, a pura e simples luta do bem contra o mal, a Lois Lane bonitinha que está em todo o lugar e que tudo sabe, os efeitos especiais utilizados em demasia – assim como a destruição da cidade de Metrópolis.
O único paradigma quebrado por “O homem de aço”, o único grande questionamento que pode ser levantado, se refere a uma regra que o Superman sempre seguiu, que é a de nunca matar uma pessoa, ainda que seja o seu pior inimigo. Essa regra foi quebrada algumas vezes, é verdade, mas talvez jamais tenha sido quebrada da forma como foi em “O homem de aço”. Mas ainda que esse acontecido seja um dos pontos altos do filme, ele não é explorado. Há uma reação de Superman quanto ao que ele acabou de fazer e nada mais.
Trocando em miúdos: “O homem de aço” não chega a ser um grande filme, mas também não é um mau começo. Ainda mais levando-se em conta o que vem por aí, o aguardado “Batman vs. Superman”, previsto para 2015. O Batman não será mais Christian Bale, e sim Ben Affleck, e a produção não contará com Christopher Nolan como roteirista, mas sim como produtor executivo, porém, espera-se que o filme seja mais denso que “O homem de aço”, e que se aproxime da trilogia de Nolan tanto no clima sombrio quanto nas atuações e na qualidade do roteiro. A nós, só resta esperar – e pagar – para ver.