Já não lembro como cheguei até o [manual prático de bons modos em livrarias], mas fiquei muito feliz de ver alguém executando uma ideia que eu mesmo tive há alguns anos, que é a de trazer a público algumas histórias inusitadas que acontecem dentro de livrarias.
Eis que, agora, o “Manual” deixou de ser apenas um blog e virou livro, publicado pela editora Seoman.
Além de trazer uma seleção das histórias publicadas no blog, o “Manual prático de bons modos em livrarias” traz também algumas dicas tanto para os clientes se portarem melhor dentro de uma livraria quanto para os vendedores atenderem melhor seus clientes.
Logo nas primeiras páginas, Lilian Dorea, a autora do livro, mais conhecida como Hillé Puonto, lista “O que você deve saber ao entrar em uma livraria”, “Ao entrar em uma livraria, você deve evitar” e “Perguntas que jamais devem ser feitas em livrarias”. Algumas dessas lições são tão básicas que podem causar estranheza em pessoas educadas e de bom senso. Por exemplo:
“‘Bom dia’, ‘Boa tarde’, ‘Boa noite’, ‘Por favor’ e ‘Obrigado’ não caíram com a nova reforma ortográfica e o uso dessas expressões são permitidas e admiradas em uma livraria’“;
“Falar alto e gritar coisas como ‘Não tem ninguém para me ajudar?’ ou ‘Cadê o livro que estava aqui há três meses?’. Além de deselegante, demonstra certo desequilíbrio emocional de sua parte“;
“‘Como assim você ainda não leu esse livro?’ – Se a senhora não leu ainda, por que eu deveria ter lido? Se a senhora já leu, por que pergunta? Desculpe, mas vocês são um bocado confusos“.
Depois dessa primeira parte “educativa”, digamos assim, vem a diversão propriamente dita. Mas, por favor, nada de pular a primeira parte. Mesmo que você pense – ou tenha certeza – ser uma pessoa educada e de bom senso. Considere a primeira parte do livro como um teste. Se você não passar nele, bem, nunca é tarde para mudar.
Os casos selecionados são hilários. Vão desde clientes procurando a biografia de Sherlock Holmes a gente que procura pela “República” de um certo Plutão. Há quem pergunte se Jane Austen não é a esposa de Paul Auster; há quem procure pelo livro “A alma imoral”, de James Bond (o autor é o Nilton Bonder); há quem chegue perguntando por “aqueles autores de internet”, e quando o livreiro pergunta quem seriam esses autores, o cliente solta a bomba: “tipo Caio Fernandes de Abreu (coitado do Caio Fernando Abreu; jamais poderia imaginar que sua obra fosse “catalogada” dessa forma algum dia).
Mas não são apenas os clientes que cometem equívocos. Livreiros também aprontam algumas. Como no caso em que o cliente procura pela biografia do cantor Neil Young, e o livreiro diz que o livro deve estar na seção de psicanálise, confundindo Neil Young com Carl Jung. Ou o livreiro que, ao ser perguntado sobre “Ulysses”, de James Joyce, questionou ao cliente se o livro era lançamento.
Leitura divertidíssima, “Manual prático de bons modos em livrarias” – que conta também com as belas ilustrações de Diogo Machado – deveria ser o livro de cabeceira de todo leitor e também de todo livreiro. No caso dos leitores, para que eles nunca se esqueçam de que bom modos é bom e a gente gosta. No caso dos livreiros, para que eles sejam sempre lembrados de que podia ser pior, bem pior…
P.S.: Esqueci de mencionar um detalhe importante a respeito do livro: ele é engraçadíssimo. Para quem, como eu, está com a mente à mil, o “Manual prático de bons modos em livrarias” serve quase como uma terapia. Portanto, fica a dica.
* Leia também: “Sobre trabalhar em livraria“.