Fleming, Ian Fleming, na Alfaguara

Bond
Crédito da imagem: http://jamesbondbrasil.com

Nunca tive vontade alguma de ler as obras de Ian Fleming. Até houve uma época em que fui um tanto aficcionado pelo personagem mais famoso do autor britânico: James Bond, o 007. Nesse período – faz muito tempo, não vou lembrar exatamente quando foi isso -, assisti a vários filmes do Bond. Lembro bem de ter assistido aos filmes com Roger Moore e Timothy Dalton. Assisti também às produções protagonizadas por Pierce Brosnan, o meu 007 preferido – pelo menos entre os que vi atuar.

Ainda não vi nenhuma das histórias estreladas pelo ator que sucedeu Brosnan na franquia, Daniel Craig, mas ultimamente tenho lido e ouvido elogios calorosos ao último filme, “Operação Skyfall”, e a vontade de assisti-lo tem aumentado bastante.

Mas, como diz o título do post, não é sobre os filmes de James Bond que quero falar. O assunto aqui são os livros de Ian Fleming que chegaram este mês às livrarias, relançados pelo selo Alfaguara, da editora Objetiva. São eles “Da Rússia, com amor”, “Viva e deixe morrer” e “Goldfinger”.

Na verdade, este é um post bobo. Só não chega a ser um post-linguiça porque eu realmente fiz questão de escrevê-lo, ou seja, eu não conseguiria não escrevê-lo. Mas este post é apenas para dizer que um livro bonito e bem feito pode atrair leitores. Já escrevi sobre isso uma vez, mas este é um assunto que sempre pode ser revisto.

Quando vi as capas dos livros na internet, as achei muito bonitas. Ao pegar nos livros – “Goldfinger” e “Viva e deixe morrer” -, pude sentir que as capas são daquele material quase emborrachado que eu não sei o nome (alguém?). Ao abrir os livros, vi que há uma foto de Ian Fleming em cada volume – a de “Viva e deixe morrer” é muito divertida. Tudo isso me levou a ler alguns trechos dos livros – no caso de “Goldfinger”, todo o primeiro capítulo. E eis que, agora, tudo o que gostaria de fazer era poder parar tudo o que estou fazendo para me dedicar à leitura dos livros de Fleming.

Ou seja: o projeto gráfico de um livro ajuda, e muito, no sucesso ou fracasso dele. É claro que uma obra pode ter uma capa horrível e vender muito bem, ou ter uma capa linda e não vender nada, mas livros bonitos chamam a atenção, e esse é o primeiro passo para que o interesse de alguém seja despertado.

No caso dos livros de Fleming publicados pela Alfaguara, só espero que as capas não sejam todas iguais. Esses três primeiros têm o mesmo projeto gráfico e a mesma imagem de capa, mudando apenas as cores. Não seria ruim que todos eles tivessem essa mesma “cara”, mas poderiam variar um pouco as capas. De repente os próximos três terem o mesmo padrão, com outro modelo de arma como ilustração.

Ian Fleming (Photo by Hulton Archive/Getty Images)
Ian Fleming (Crédito da imagem: Hulton Archive/Getty Images)

Pra completar, só mais uma “reclamação”: senti falta de algum “bônus textual”. Uma introdução ou posfácio, ainda que iguais em todas as obras, contando um pouco mais da história do autor e do personagem. Ou mesmo com fotos dos filmes inspirados nos respectivos livros. Poderia sair um pouquinho mais caro, mas vejam bem: bondmaníacos pagariam sem pensar duas vezes.

E para finalizar, reproduzo abaixo um trecho do primeiro capítulo de “Goldfinger”, com grifos em itálico nas passagens que achei sensacionais:

“1. Reflexões em torno de um uísque duplo

James Bond, com dois uísques duplos dentro de si, estava sentado no saguão de embarque do aeroporto de Miami e pensava na vida e na morte.

Matar gente fazia parte de sua profissão. Jamais gostara e, quando necessário, cumpria a tarefa da melhor maneira possível e depois a esquecia. Na qualidade de agente com o raro prefixo duplo de 00 — que, dentro do Serviço Secreto, significava licença para matar —, o dever exigia que fosse frio diante da morte como um cirurgião. Se ela ocorresse, paciência. O arrependimento não era um sentimento profissional — pior, era o caruncho da alma.

E no entanto houvera algo de curioso, impressionante, na morte do mexicano. Não que não tivesse merecido morrer. Tratava-se de um sujeito perverso, um sujeito que, no México, chamavam capungo perverso. Capungo é um marginal que mata pela miséria de quarenta pesos, ou cerca de vinte e cinco shillings — embora tivesse provavelmente recebido mais do que isso para matar Bond —, e que, a julgar pela aparência, jamais passara de um instrumento de infligir dor e sofrimento durante toda a sua vida. Sim, com certeza já morrera tarde; mas quando Bond o matara, menos de vinte e quatro horas atrás, a vida abandonara seu corpo de modo tão rápido e radical que Bond tivera a impressão de um pássaro a escapar de sua boca, como na crença primitiva dos haitianos.

Que diferença extraordinária entre um corpo cheio de vida e um corpo vazio! Ora é alguém, depois ninguém. Aquele havia sido um mexicano com nome e endereço, carteira de trabalho e talvez carteira de motorista. Em seguida algo o abandonara, abandonara o invólucro de carne e roupas baratas, deixando-o como um saco de papel vazio, à espera do lixeiro. E este diferencial, essa coisa que se desprendera do bandido mexicano miserável, era algo maior do que o México inteiro.

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