A PEN American Center, um dos braços da PEN International – maior associação de escritores do planeta -, decidiu homenagear o semanário francês Charlie Hebdo no PEN World Voices, festival literário que acontece em Nova York e tem, entre seus objetivos, defender a liberdade de expressão.
Uma justa homenagem a um jornal que, no dia 07 de janeiro deste ano, sofreu um atentado terrorista de radicais islâmicos que teve como resultado 12 pessoas mortas. Bem, essa é a opinião da cúpula da PEN e da maioria de seus membros, mas houve quem se posicionasse contra.
O ruído começou com seis escritores que foram a público dizer que não concordavam com a homenagem. Segundo eles, uma coisa é apoiar, em solidariedade, o Charlie Hebdo, e outra coisa é premiar os seus “feitos”.
Salman Rushdie, escritor condenado à morte pelo Irã após a publicação do romance “Versos satânicos”, presidente da PEN American entre 2005 e 2006, manifestou-se no Twitter. Chamou os autores de “seis escritores à procura de caráter”, fazendo uma alusão ao livro “Seis personagens à procura de um autor”, de Luigi Pirandello (estupendo, a propósito).
Mas a lista foi crescendo. De seis, subiu para trinta. Depois, para 145. Agora, são mais de 200 autores contra a homenagem – que, apesar disso, foi realizada ontem, terça-feira, no segundo dia do PEN World Voices – que vai até o dia 10, domingo. Um número não muito significativo diante dos mais de 2.200 membros da Pen American – estimativa de 2011 que consta no último relatório anual da associação disponível para consulta em seu site. Podem não ser muitos, mas entre esses mais de 200 autores estão nomes respeitadíssimos como Peter Carey, Junot Díaz, Michael Ondaatje e Joyce Carol Oates.
Isso nos leva a questões debatidas logo após o atentado. Muitas pessoas se disseram chocadas com o ocorrido, mas também afirmaram que o Charlie Hebdo havia “exagerado na dose”. Escrevi sobre o assunto no dia seguinte à tragédia e o texto rendeu muitos comentários no Facebook. A maioria deles lamentável.
Na minha opinião, existe apenas um lado nesse episódio trágico, que é apoiar de maneira irrestrita o Charlie. Principalmente se você é um escritor, jornalista, cartunista, enfim, um artista.
Em entrevista ao New York Times, Salman Rushdie – novamente ele – definiu bem a questão. “Se a PEN, como uma organização de liberdade de expressão, não pode defender e celebrar pessoas que foram assassinadas por fazer caricaturas, então francamente a organização não é merecedora do nome. O que eu queria dizer a Peter e Michael e aos outros é: espero que jamais alguém vá atrás deles”, sendo esta última frase uma clara referência aos anos em que precisou se esconder para preservar a própria vida. Esse período foi narrado por Rushdie no também recomendado – ainda que não lido por inteiro – “Joseph Anton” (Companhia das Letras, 2012, trad. José Rubens Siqueira e Donaldson M. Garschagen).
Mas é claro que qualquer um tem o direito de emitir opiniões a respeito de qualquer assunto, seja lá qual for o seu julgamento. Se não concordamos com alguma dessas opiniões, temos também o direito de criticá-las. Foi o que me propus a fazer, com este texto. É para isso que serve a liberdade de expressão.