Imagino que vocês saibam ser possível falar/escrever sobre um livro sem lê-lo por inteiro. Não é isso, aliás, que muitos fazem/fizeram no colégio ou na universidade? (Não eu, claro.) Até porque pode-se falar/escrever sobre um livro sem levar em conta seu conteúdo. Senão, vejamos.
Cassia me deu de presente o livro “Diário mínimo”, de Umberto Eco, publicado ano passado pela editora Record. Estou absolutamente encantado por ele, mas, antes de dizer o motivo – digo, os motivos; dois, mais precisamente -, preciso fazer algumas críticas.
Na quarta capa desta edição do “Diário mínimo” temos a informação de que ele é “uma coletânea de excelentes crônicas e paródias literárias que acompanhou pelo menos três gerações de leitores. Publicados originalmente na revista Verri, os textos, escritos entre 1959 e 1961, estão compilados pela primeira vez em um único volume”.
Mas, dentro do livro, temos duas grandes seções, digamos assim, cada uma com vários textos, sendo a segunda maior que a primeira. A primeira chama-se “Diário mínimo”; a outra chama-se “O segundo diário mínimo”. Essas duas seções são, na verdade, dois livros, que foram publicados separadamente há um bom tempo e que, agora, estão juntos “em um único volume”.
Bom, vamos às críticas.
A quarta capa diz que os textos foram escritos entre 1959 e 1961. Isso dá a entender que todos os textos do livro estão dentro desse espaço de tempo. Mas não é o que acontece. Há textos datados de 1991, por exemplo. Fiz uma rápida pesquisa e vi que a primeira edição do “Diário mínimo”, na Itália, é de 1963, e a primeira do “Segundo diário” é de 1992.
Na edição publicada em 2012 pela Record foi reproduzida uma nota escrita pelo próprio Eco para a edição de 1975, que já conta com textos de 1967, 1971 , por exemplo. Já o “Segundo diário”, como disse acima, tem textos ainda mais novos, de 1991 – e outros anos próximos a ele.
Faltou, portanto, uma nota, um prefácio ou uma introdução para a edição brasileira que explicasse isso, esse histórico do livro. Todos os livros e autores merecem cuidados especiais, mas Umberto Eco é um autor que merece mais que alguns. São essas as minhas críticas a esta edição: informação não completamente correta na quarta capa e a falta de uma explicação sobre o livro.
Dito isso, vamos aos elogios, que serão mais breves.
Primeiro, um óbvio: a volta às livrarias desses dois livros que estavam fora de catálogo há um bom tempo. Não é tudo de Umberto Eco que tenho vontade de ler, mas o Eco ensaísta literário eu quero muito conhecer.
Segundo, a capa. Ela é uma das mais bonitas de minha biblioteca. E, nos últimos tempos, a capa pela qual eu mais me encantei. Faz tempo que não caio de amores por uma. A fonte escolhida, a cor da fonte do título, a imagem da capa, enfim, belíssima, um trabalho exemplar. Aliás, aí vai outra crítica: não consta no livro as informações sobre a capa. O autor da ilustração, o responsável pelo projeto gráfico, essas coisas.
Sobre o projeto gráfico, para o livro ser perfeito, na minha opinião, só faltou ele ser 14×21. Não sou muito chegado a livros 16×23, mas aí é uma questão pessoal mesmo.