Você já leu esta frase em algum lugar, mas… here we go again: se engana quem pensa que escrever é um trabalho fácil, livre de cansaços e estresses. Escrever, na verdade – e você já deve ter lido isto em algum lugar também -, é um trabalho muitas vezes chato. Se estivermos falando de textos avulsos, menos mal, porque escrever para um blog não é assim tão complicado. Nem mesmo escrever resenhas ou matérias. Pode-se ter algum trabalho para começar o texto, mas, depois de iniciado, a escrita flui. (Ok, estou falando apenas por mim, mas vamos em frente.)
Já escrever ficção é mais complicado. É comum o escritor ficar parado diante da tela do computador, ou do caderno, tentando começar a preencher a página com algo decente. Se essa etapa já foi vencida e o escrito estiver pronto, há a segunda fase, que consiste na revisão e consequente edição do texto. A depender do autor, esse pode ser um trabalho para anos e anos. Murilo Rubião, por exemplo, notável contista mineiro, escreveu apenas 33 contos durante toda a sua vida, e, diz a lenda, trabalhou em alguns deles até pouco antes de morrer – e seguiria trabalhando, se não tivesse falecido. Conheço escritores que disseram ter passado anos com um conto inconcluso por causa de detalhes praticamente inofensivos.
Não vamos comparar aqui o ofício do escritor a outras profissões, é claro. Mas trabalhar com as palavras é muitas vezes angustiante e também frustrante. Não foram poucas as vezes que iniciei um conto desejando que ele acabasse de determinada forma e, ao cabo de tudo, ele terminou de outra. O pior é que, nos casos em que isso aconteceu, fiquei quase como um romance de Pirandello, com um final à procura de um começo. Depois de muito tentar aproveitar esses finais, acabei desistindo. Era isso ou eu ficaria louco.
Mas tergiverso e fujo do assunto que este post deveria tratar desde o começo, que são as ferramentas do escritor, o material utilizado no momento da escrita. Bom, confesso que todo o preâmbulo, ainda que não programado – eis uma das maiores satisfações de escrever: por mais planejado que você seja, o texto pode tomar rumos que você nem imagina -, serviu para dar um pouco de volume ao post, que, se ficasse limitado ao tema proposto, seria bem curtinho.
Quem escreve diretamente no computador precisa apenas de um editor de texto – e de um bom computador, claro. Portanto, a questão das ferramentas diz respeito mais a quem escreve a mão. Particularmente, prefiro escrever a mão. Aparentemente, as ideias fluem melhor assim. Ao menos no caso de ficção. Quando preciso escrever não-ficção – ou seja, matérias, resenhas -, funciono melhor aqui, no computador. Vai entender…
Enquanto há autores que privilegiam o tipo de lugar no qual vão escrever – alguns só escrevem se o caderno ou caderneta for da marca Moleskine, por exemplo -, minha maior preocupação é com as canetas. Sim, com as canetas.
Existem canetas que são lentas, ficam travando a escrita. Elas parecem encontrar, nas folhas de papel, quebra-molas, redutores de velocidade, e isso atrapalha muito a escrita. Outra coisa que atrapalha e me tira a paciência são canetas que começam a falhar sem razão nenhuma, apenas porque ficaram algum tempo sem serem utilizadas. Por isso, nos últimos anos venho tendo uma maior atenção no momento de comprá-las.
Até agora, o melhor modelo de caneta que encontrei foi a Uni Jetstream 101 da Uniball/Mitsubichi. A escrita é muito macia e, apesar de a ponta ser 1.0 – prefiro pontas 0.7 -, a letra não sai muito grossa. No lançamento de “O escritor premiado e outros contos” autografei os livros com uma “prima” da Uni Jetstream. É a Uni-Ball Jetstream Basic Series 0.7. Porém, para carregar comigo no dia a dia, prefiro canetas com bocal, então acabei deixando de comprar a 0.7.
Outra que muito me agradou foi a Pentel Vicuña. Porém, nas últimas vezes que a comprei, ela começou a falhar cedo, então estou dando um tempo. Mas é uma excelente caneta, recomendo. A maior vantagem delas é que são esferográficas; não obstante, elas deslizam com graça e leveza, tal qual a Garota de Ipanema, no papel, como se fosse uma caneta de tinta tipo gel (rimou!).
Recentemente descobri mais três canetas que valem a pena ser recomendadas: a Papermate Kilometrica – a que tenho é a retrátil -, a Uni-Ball Vision RT (retrátil também, com tinta do tipo gel, mas ela quase não borra) e, finalmente, a Pentel Slicci 0.7, que, além de ser uma beleza escrevendo, é a mais baixinha de todas, sendo, portanto, a mais charmosa. Sua tinta é do tipo gel, mas também quase não borra.
É engraçado escrever sobre canetas, e eu sinceramente não vi ainda ninguém fazendo isso em português – mas certamente existem textos sobre canetas por aí, eu é que nunca vi -, mas há sites que resenham canetas, e eu achei isso o maior barato.
Sobre onde escrever, serei bem mais breve: tenho diversos caderninhos e cadernos aqui, e não tenho preocupações quanto a marcas. Só faço questão de que eles sejam práticos ou bonitinhos. Tempos atrás encontrei uma caderneta da Tilibra que achei uma beleza, porque as folhas são destacáveis. O modelo é Manager Lux. Outra que adorei, por causa do tamanho, foi a cadernetinha de capa lisa da marca Uatt?. Comprei, anos atrás, um Moleskine, mas, sinceramente, não vi diferença alguma no tipo de papel. Recentemente encontrei uma caderneta com estampa de fitas do Senhor do Bonfim, e nela escrevi meu mais recente conto, que está em fase de hibernação. Em breve “acordo” ele para fazer algumas modificações.
Mas isso é quando estou em casa, ou quando não esqueço de colocar alguma de minhas cadernetas no bolso ou na mochila. Em caso de esquecimento, vale tudo: utilizar o celular como rascunho, escrever em guardanapo, ou até mesmo na mão. O que importa é não perder a ideia nem a inspiração, porque, se elas não forem anotada e aproveitadas, o risco de esquecê-las é alto, e não foram poucas as vezes em que elas nunca mais voltaram.
Escrever definitivamente não é uma atividade fácil, e quem acha que sim é porque nunca esteve realmente compromissado com essa “missão”… rsss
Já cheguei a ficar escrevendo na fila do caixa do supermercado em cima do cabo do carrinho na lista de compras… deixei gente passar na minha frente pra não perder a ideia… é bem constrangedor.
Ah, parabéns pelo blog e pelo texto.
Gostei muito do espaço!
Até a próxima
obrigado, Lia!
Gostei muito do texto. Primeira vez em minha vida leio um texto sobre canetas.