* Ainda sem poder parar para escrever os textos que estão em minha mente, resolvi requentar um texto publicado anteriormente no Entretantos e no Digestivo Cultural. Enjoy!
Um livro pode causar as mais diversas sensações em uma pessoa. Inclusive sensação nenhuma. Mas não vale a pena falar desse caso.
Acho que já falei isso em algum lugar: um livro pode divertir, fazer chorar, sentir raiva (muitas vezes de você mesmo, por se ter deixado enganar por uma capa bonita ou resenha elogiosa, e ter comprado o maldito livro ruim). Um livro pode, inclusive, mudar a vida de uma pessoa. Fazer com que ela veja de uma maneira mais clara as coisas ao seu redor. Pode fazer com que uma pessoa aprenda mais sobre si mesma e encontre finalmente o seu caminho. Ou pode, e muitas vezes é bom que isso aconteça, fazer com que uma pessoa perca completamente seu rumo e repense toda a sua vida até ali. Um livro pode fazê-la perceber quão incompleta fora sua trajetória até o instante em que finalizou a leitura daquela obra.
Não, não estou exagerando. Não são devaneios. Tudo isso é possível e já aconteceu com alguém. Eu que o diga.
O escritor argentino César Aira disse, na Flip de 2007, não exatamente com as palavras a seguir, que não aconselha ninguém a se aproximar da literatura. Muito pelo contrário: ele gostaria que as pessoas se afastassem dos livros, da literatura, porque ela, a literatura, faz com que o homem mergulhe em si mesmo e se torne um ser solitário, recluso, e até mesmo triste, melancólico.
Quando ouvi a declaração de Aira, fiquei incomodado. A literatura, para mim, é justamente o contrário disso. O ato de ler, no caso. Porque quando você lê uma obra, você quer comentar com alguém sobre ela, recomendar ou tentar encontrar o motivo que te fez não gostar dela. O fazer literatura, concordo, provoca mesmo tudo aquilo num escritor ou escritora.
Ouvi a declaração de Aira e pensei em mim. A literatura me fez acordar, me fez descobrir o que realmente eu quero para a minha vida. A literatura me deu bons amigos, me deu vontades e ambições concretas (algumas nem tanto, talvez).
Depois da mesa, que também contou com o brasileiro Silviano Santiago, houve uma sessão de autógrafos. Munido de um exemplar de “As noites de Flores”, aboletei-me na fila. Quando chegou a minha vez, eu disse, gaguejando e tentando ser o mais simpático e bem-humorado possível, que a literatura me fez sair da Bahia e ir a Parati, e agora estava ali, pedindo um autógrafo a ele. Ele sorriu, agradeceu, e não lembro se disse que só queria provocar um pouco. Acho que não, mas é bom lembrar desse jeito.