A Companhia das Letras, uma de minhas editoras favoritas, completou hoje 31 anos de fundação. Aproveitando a oportunidade, decidi listar 31 livros memoráveis – para mim – publicados pela editora. Escrevi sobre alguns deles ao longo dos anos e coloquei os links para o que ainda está disponível para acesso. Segue a lista:
1) “Da mão para a boca”, de Paul Auster – Composto por um relato autobiográfico, três peças e um romance (“A estratégia do sacrifício”), li apenas o relato autobiográfico, “Da mão para a boca”, que é absolutamente incrível. Se houvesse uma espécie de vestibular para escritores, “Da mão para a boca” deveria estar na lista de leituras obirigatórias.
2) “O desatino da rapaziada“, de Humberto Werneck – Os amantes da literatura brasileira, principalmente a mineira, não podem deixar de ler esse livro. O mineiro Humberto Werneck faz uma quase biografia de três gerações de autores mineiros, percorrendo o período dos anos 1920 até a década de 1970. Então estão lá Drummond, Pedro Nava, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Murilo Rubião, Jaime Prado Gouvêa, Luiz Vilela, Ivan Angelo, entre outros, que marcaram a literatura brasileira do século XX. Indispensável.
3) e 4) “Cine Privê” e “Jeito de matar lagartas“, de Antonio Carlos Viana – Considerado um dos maiores contistas brasileiros dos últimos 50 anos, no mínimo, Antonio Carlos Viana se valeu do micro para falar do macro, na linha da famosa frase de Tolstoi: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Os livros de Viana são marcados por personagens e paisagens do interior, porém os conflitos, as situações, são universais.
5) “Naufrágio“, de Louis Begley – Única obra que li de Begley até o momento, esse livro não sai da minha memória, mesmo quase 10 anos depois de tê-lo lido. Penso em fazer uma releitura há anos, e só não fiz isso ainda por estar priorizando “primeiras leituras”. Mas o tempo das releituras chegará.
6) “Dentro da baleia e outros ensaios”, de George Orwell – Um dos maiores jornalistas e escritores do século XX, Orwell talvez seja um dos poucos autores famosos, na mesma medida, tanto por seu trabalho jornalístico quanto por sua obra ficcional. Qual apaixonado por literatura não ouviu falar em “A revolução dos bichos” ou “1984”? Mas o “meu” Orwell é o ensaísta, e “Dentro da baleia” reúne alguns de seus melhores ensaios, como “Por que escrevo”, “Confissões de um resenhista”, “O abate de um elefante” e “Como morrem os pobres”. O livro foi organizado pelo saudoso Daniel Piza.
7) e 8) “Indignação” e “Homem comum”, de Philip Roth – Na verdade, eu poderia incluir outros livros de Roth aqui, mas preciso de espaço para outros livros memoráveis. Escolhi esses dois porque, dentre os que li, foram os que mais ficaram martelando em minha mente após a finalização das leituras. Um detalhe curioso sobre minha leitura de “Homem comum”: depois que o li, escrevi uma resenha dizendo que o livro não era lá grande coisa. Mas, com o passar dos dias e das semanas, ele foi “crescendo” em minha mente, e hoje “Homem comum” é um dos livros que estão na minha fila de releituras.
9) “Vida querida”, de Alice Munro – Não li, admito, todo o livro, mas alguns contos foram mais que suficientes para me deixar boquiaberto, bestificado com o talento da contista canadense que, em 2013, recebeu o Nobel de Literatura. Foi a partir desse livro que comecei a ler Munro, certamente uma das autoras mais talentosas que já passaram por este nosso mundo de meu Deus. Eu poderia passar horas escrevendo elogios para Alice Munro, mas eles não seriam o bastante.
10) “Antes do baile verde”, de Lygia Fagundes Telles – Falando em grandes autoras, falemos um pouco de Lygia. (Na minha opinião, se Lygia escrevesse em inglês, teria ganho o Nobel faz tempo.) Lygia é uma das autoras mais marcantes para mim. Lembro de ter lido, no colégio, uma coletânea de seus contos, e eles me impactaram muito. Mais recentemente, a Companhia das Letras reeditou a obra de Lygia, e aproveitei para adquirir alguns livros para ler no futuro. “Antes do baile verde” traz alguns dos contos que estavam na citada coletânea, histórias maravilhosas como a que dá o título ao livro, “Natal na barca” e “Venha ver o pôr do sol”.
11) e 12) “Na praia” e “A balada de Adam Henry”, de Ian McEwan – Dois romances excepcionais do festejado autor inglês. “Na praia” é mais um que está na minha fila de releituras. “A balada de Adam Henry” foi lido há pouco tempo, e é uma obra espetacular. Deveria tê-la resenhado, mas acho que fiquei sem palavras para escrever sobre ela. Tentarei fazer isso em breve, mas desde já fica a recomendação.
13) “Outras cores”, de Orhan Pamuk – Pamuk é mais famoso e celebrado por seus romances, mas ainda não os li. Diferente dos ensaios de “Outras cores”, que volta e meia leio. Alguns livros, penso, devem ser lidos aos poucos, com vagar; mais um desfrute que uma leitura. E assim são os textos de outros cores: deliciosos de ler, para usar um clichê.
14) “O Rio é tão longe“, de Otto Lara Resende – Há alguns anos a Companhia começou a reeditar a obra de Otto Lara Resende, trazendo também à luz algumas coisas que ou não existiam ou estava já há algum tempo sem edição. “O Rio é tão longe” é uma reunião das cartas que Otto enviou a Fernando Sabino durante décadas. Algumas bem-humoradas, outras queixosas, outras virulentas – mas não contra o amigo -, as cartas de Otto são pequenas pérolas. Para quem gosta desses dois mineiros, é uma leitura incrível.
15) e 16) “Para viver um grande amor” e “Para uma menina com uma flor”, de Vinicius de Moraes – Vinicius foi muita coisa: poeta, músico, jornalista, diplomata, mas a faceta de que mais gosto dele é a de cronista, e nesses dois livros estão reunidas algumas de suas melhores crônicas.
17) “Os amores difíceis”, de Italo Calvino – Faz mais de 10 anos que li esse livro e pouco lembro da leitura propriamente dita, mas pensar nele me traz bons sentimentos. Como a proposta aqui é listar livros memoráveis, ele tem que ser citado. Além disso, foi por causa desse livro que comecei a ler mais Calvino. Depois de “Os amores difíceis”, li “Marcovaldo”, e mais adiante conheci o Calvino ensaísta, que até hoje volta e meio (re)visito.
18) “Risíveis amores”, de Milan Kundera – Mesmo caso do livro acima. A propósito, li ambos na mesma época. Foi a partir dessa obra que me interessei por Kundera. Não tanto quanto por Calvino, é verdade, mas até hoje dou minhas zapeadas nos livros de Kundera, e tenho vários aqui na fila de leituras.
19) “Angosta”, de Héctor Abad – Outro livro que deveria ter resenhado quando li mas não o fiz. Comprei “Angosta” no fim de 2015 e li pouco depois. Gostei muito, apesar de ter achado que ele poderia ser um pouco mais curto. Angosta é o nome de uma cidade dividida em três níveis. Na base, estão os mais pobres; no andar do meio, a classe média; e no topo, os mais ricos, onde um seleto grupo toma as decisões que afetarão as vidas de todos. Esse “conselho”, digamos assim, decide até mesmo quem deve morrer e a quem deve ser dada mais uma chance de seguir vivendo. Os paralelos com o Brasil – e com outros países e cidades de terceiro mundo – são inúmeros. “Angosta” é um daqueles livros que, infelizmente (não por sua qualidade, que é alta, mas pelo que denuncia), são atemporais.
20) “Juventude”, de J.M. Coetzee – Mais uma obra que está na minha fila de releituras. O engraçado de “Juventude” é que tive de comprá-lo duas vezes. Conto essa história em uma das crônicas de “Mais um para a sua estante“. Foi por causa de “Juventude” que me interessei por Coetzee. Muitos livros dele estão na minha fila de leituras.
21) “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago – Está aqui um livro que me deixou praticamente no chão. Obra-primíssima da literatura portuguesa, todos os elogios que possam ser destinados a “Ensaio sobre a cegueira” são insuficientes (é, eu sei que disse o mesmo sobre Alice Munro, maz fazer o quê, se é verdade?). Livro mais que recomendado, e mais um que está na minha fila de releituras.
22) “Um certo capitão Rodrigo”, de Erico Verissimo – Outra obra que li há muito tempo e que me marcou muito. Ensaiei uma releitura há alguns anos, mas tive de interromper por causa de leituras mais urgentes. “Um certo capitão Rodrigo” faz parte da momumental “O tempo e o vento”, mas faz sentido sozinho. Lembro de ter terminado sua leitura às lágrimas.
23) “Cartas a um jovem contestador“, de Christopher Hitchens – Mais um que li há mais de 10 anos. Pouco lembro da leitura, mas também me marcou muito. A Companhia deveria reeditá-lo, se ainda possuir os direitos.
24) e 25) “A resistência” e “O escritor e seus fanstasmas”, de Ernesto Sabato – Assim como Pamuk, Sabato também é mais conhecido por seus romances, os quais também ainda não li. Mas esses dois livros me fizeram um bem enorme quando os li. “A resistência” é uma espécie de manifesto a favor do bom combate, da defesa de princípios nobres; “O escritor e seus fantasmas” são ensaios, comentários, pequenas observações e citações sobre a literatura e tudo o que está relacionado a ela.
26) “Nossas noites”, de Kent Haruf – Recentemente publicado no Brasil, esse pequeno romance foi uma das melhores coisas que li nos últimos tempos. Simples e delicado, “Nossas noites” fica reverberando em nossa mente. Pretendo escrever mais sobre ele em breve.
27) “Mãos de cavalo”, de Daniel Galera – Outro que li há mais de 10 anos. Esse romance alçou Daniel Galera para o “time” dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea. Não lembro de ter conhecido alguém que não tenha gostado desse livro. Mais um que está na minha fila de releituras.
28) “O livro das vidas” (Vários autores) – Seleção de obituários publicados no New York Times, “O livro das vidas” traz textos sobre pessoas famosas, como Joseph Mitchell e Jerry Siegel, e anônimos com vidas surpreendentemente incríveis. Outro daqueles livros que merecem ser lidos ao longo do tempo, para que a despedida seja prorrogada.
29) e 30) “O imitador de vozes” e “Meus prêmios”, de Thomas Bernhard – O primeiro é um livro de contos; o segundo, uma reunião de discursos e textos sobre prêmios que o autor recebeu ao longo da carreira. Irônico e sarcástico como poucos, somente esses dois livros colocaram Bernhard como um dos meus autores prediletos. Outros dois livros dele estão na minha fila de leituras: “Origem” e “Extinção”.
31) “A casa dos náufragos”, de Guillermo Rosales – Um livro terno e brutal. Acho que posso definir dessa maneira “A casa dos náufragos”, curto e excepcional romance autobiográfico do autor cubano que faleceu muito jovem, aos 47 anos. Mais um que deveria ter resenhado e não o fiz. E mais um que está na minha fila de releituras.
Leia “As cores da infâmia” de Albert Cossery fiquei muito impressionada
Opa, obrigado pela dica! Vou colocar na minha lista de desejos 🙂